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terça-feira, 17 de agosto de 2010

Um verdadeiro herói



Foi assim que pensei em fazer uma crônica. Em uma sexta-feira, ao sair da escola, os alunos zoavam comigo. Eu não era popular com as meninas, não era o melhor jogador de futebol, nem tirava as melhores notas. Eu era aéreo. Parava em um lugar e ficava pensativo. Pensava na vida. Pensava em ser eu mesmo e não alguém que fingia ser quem não era. Resolvi ir a casa de minha avó.
No caminho, passavam caçambas transportando barro para a construção do canal das águas do rio São Francisco. A população não gostava muito delas, mas já estava acostumadas. (Ou seria mal acostumada?) Elas não respeitavam a ninguém. Sempre passavam em alta velocidade, ultrapassavam moto, carro pequeno e até, pareciam brincar de ultrapassar os próprios colegas! Sem falar dos banhos de lama que muitos - inclusive eu – já tinham levado um banho delas. Ah! Como eu detestava fica melado de lama!
Tudo bem, eu estava falando da inda a casa de minha vó. Era um dos trechos mais perigos dessa pista. Eu fui a pé. Vi Dona Rita – esposa de um vaqueiro da região, o Tião – vindo no famoso fusquinha da família com sua filha Margarida. Quando ela se preparava para fazer uma curva próximo ao lixão da cidade – em um ponto chamado Curva do finado Cardoso, uma das mais violentas da região, ela não viu uma caçamba que vinha em alta velocidade. Dona Rita tentou desviar, mas a caçamba desgovernada atingiu o fusca de frente. Que grave acidente! Corri para a casa mais próxima e pedi que um rapaz lá me levasse de moto para chamar uma ambulância.
Quando a ambulância chegou, a motorista não havia resistido e foi levada ao hospital da cidade já morta. Mas sua filha, graças a Deus, teve as duas pernas e um braço quebrado (sorte porque vinha sentada no banco de trás do carro!). Pude visitá-la depois de alguns dias. Ela gostou, até agradeceu quando eu lhe disse o que tinha feito.
A recuperação de Margarida foi lenta e demorada. Foram muitas cirurgias e sessões com um fisioterapeuta para voltar a andar e usar o braço esquerdo. Mas o pior, pensava ela, não era o que havia acontecido com ela, ou a morte da mãe, mas quantas outras pessoas ainda morreriam naquela curva vítimas de motoristas que não respeitavam a vida de ninguém: fosse bicho, fosse gente. Foi quando surgiu a ideia em minha sonhadora cabeça.
No dia da campanha de prevenção no trânsito, lá em minha escola, chamei Margarida, que se tornou minha amiga, para contar um pouco de sua história como parte do meu trabalho escolar. Ela começo falando de como sua mãe amava a vida e respeitava o próximo. Depois falou do grave acidente: da irresponsabilidade do motorista da caçamba, do perigo da curva, do descuido em andar sempre em alta velocidade sem a menor necessidade.
Meu trabalho foi dez! De garoto perseguido passei a celebridade! Não liguei muito para o que diziam. Eu era aéreo mesmo. Continuei pensativo, pensava na vida, de como eu pude ajudar uma vida.

Autores: Kênia e Ronaldo (alunos do Primeiro Ano - Turma B, Turno manhã)

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